LIVROS DE IARA RIBEIRO
Livro "Andarilhos de Cordel"
AGRADECIMENTOS DO LIVRO
Ao meu pai (em memória e coração) “andarilho do meu coração”
A minha mãe, guerreira da minha história.
Ao meu filho amado para sempre Pablito!
Ao meu companheiro de palco, estrada e amor: amoralado!
Aos meus irmãos: Ivanda, Valmir, Ieda, Ione,Ivan (em memória e coração) Ivone e em especial a “José Ivo”, pelos muitos livrinhos de cordel que ele deixou que acompanhassem a minha infância
A você que assistiu ao Espetáculo “Andarilhos de Cordel” ou que “lerá” este livreto.
A todo meu povo, sofrido, calejado... mas que ainda tem coragem pra seguir sua luta!
PRÓLOGO
Páginas perfumadas de essência
Que pede espaço
no livro enfadonho
de intelectualidades mortas.
Iara Ribeiro
O Espetáculo estreou em 2005 no Paraná, com texto e direção de Iara Ribeiro, espetáculo já esteve em São Paulo, Campinas, Presidente Prudente, Curitiba e várias cidades do Paraná, participou de programas de TV, Convite ao teatro, Festivais, entre outros.
Tem uma história de conquista junto ao público e continua sua trajetória com profissionais de grande experiência e pesquisa na área, levando sensibilidade, poesia, circo e a linguagem impactante do teatro de rua, sem perder a criticidade e a essência humana, elementos trabalhados intensamente pela Cia Pedras.
BREVE RESUMO DA PEÇA:
O espetáculo conta a história que conta histórias... Um casal de nordestinos vivem de contar histórias de cordel e assim ganham sua vida, convivendo com a seca e a miséria, retratam as mazelas desse país chamado BRASIL, mostrando de forma sensível e apaixonante o amor pela vida. Fulô e Pirilampo, (colocam a menor máscara do mundo) e contam algumas histórias, fazem duelo entre o clássico e o popular... fazem rimas, cantam repentes e de repente você pode se encantar ...
EM 2018 O ESPETÁCULO VIROU LIVRO
Foi lançado dia 24/11/2018 na FLIM Festa Literária Internacional de Maringá
ALGUNS DEPOIMENTOS SOBRE O LIVRO
(Ângela Ramalho - escritora e cordelista)
***Ângela Ramalho é proprietária da Editora Publisher de Maringá – Paraná
(José Luiz de Araujo - Professor).
"O livro é uma mescla de realidade e utopia típica dos andarilhos, ajudando o leitor a compreender melhor como pensa e como age as pessoas que largam tudo para vagar pelo mundo e prol do amor, do sonho e principalmente da sobrevivência por meio da arte"!
(Adriano Braga - Ator, capoeirista e professor de circo )
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“Andarilhos de Cordel, definitivamente um livro que acalenta a alma! A “saga” destes dois nordestinos sofridos nos traz esperança nestes tempos frios e tão duros que vivemos!”.
(Leticia Bonato - Atriz e internacionalista)
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“Sou absolutamente apaixonada por "Andarilhos de Cordel". Primeiro apresentado de forma cênica com os protagonistas "Fulô e Pirilampo", os quais em todas as cenas demonstram empatia pelo sofrimento do povo nordestino. A peça teatral também nos faz lembrar sobre hoje historias que lemos de Lampião e Maria Bonita.O livro Andarilhos de Cordel de Iara Ribeiro, nos diverte com suas quadrinhas escritas em rima - um verdadeiro cordel. Arte dos nordestinos construída no norte do Paraná. E parabéns a Cia Pedras Teatro Circo, pelo carisma com a cultura nordestina”.
(Ivanda Tonsic - Coordenadora pedagógica)
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"VESPAS NA RETINA"
(Doutora em Letras e Estudos do Texto e do Discurso, Análise do Discurso
Quando eu tinha cerca de 13 ou 14 anos comecei a me interessar pela poesia. Eu não era poeta, mas adorava todo o texto que eu julgava ser literário.
Eu nunca sabia bem que lia ou devia ler, lia qualquer coisas que chegasse nas minhas mãos de menina, lia livros de literatura das irmãs mais velhas, frequentavas as bibliotecas municipais das cidades onde morava e lá ia pegando os livros e folheando e vendo o que eu gostava e o que eu não gostava.
Naquela época não havia internet. Não havia nada e nem ninguém ao meu redor para me dizer o que era bom ou ruim, qual poeta era famoso ou não. Ninguém do meu círculo de amigos ou familiar era leitor de poesia. E assim eu entrei no mundo da leitura poética, sem referências, sem curadores, sem saber que existia crítica literária. Lia, se o livro me tocasse emprestava e ia ler em casa. Copiava poemas nos cadernos, nos diários, e, assim, alguns iam ficando registrados, colados em alguma página da minha adolescência. Alguns poemas acabavam sendo de poetas famosos, que eu inadvertidamente misturava com os poemas de autores anônimos. Para mim era tudo poesia, se eu gostasse.
Eu gosto de ter iniciado minha vida de leituras poéticas desse modo, pois assim aprendi que para a poesia não interessa ser um grande ou pequeno nome. Isso não existe na poesia. Os versos de uma poesia são o que lhe conferem poeticidade e grandeza. Se eles salvam ou ferem a alma de alguém é poesia. Se eles tiram você do estado natural das coisas é poesia.
Sendo leitora assim casual de poesia eu conheci o teatro. Descobri a mágica da poesia transformada em atos. E no teatro conheci Iara Ribeiro. Naqueles tempos idos erámos colegas de palcos e cenários e fizemos juntas uma peça montada a partir de poesias, escritas pelos próprios atores. Ali tentei rabiscar umas poesias para outros encenarem e nunca vou me esquecer de ter pisado no palco para declamar uma poesia escrita pela Iara Ribeiro. Poesia forte, daquelas que ferem, que te esbofeteiam a cara, cujo título era Aborto Nú. Depois daquele dia um certo estilo, um certo ar de indignação teatral com as coisas da vida sempre me acompanharam, mesmo quando depois eu tenha me afastado do teatro e da poesia imersa nas coisas a fazer da vida. Engolida pela invenção do meu cotidiano.
Hoje, em 2016, muitos anos depois daquela peça de poesias que fiz junto com a Iara Ribeiro ( lá nos tempos iniciais do grupo Camaleão, dirigido por Jaime Stábile, e depois nos tempos iniciais da Cia Pedras, dirigida até hoje por Iara Ribeiro), aqui estou com a missão de prefaciar este livro de poesias de minha amiga poeta.
Ler esse livro, com fragmentos de um passado poético que eu reconheço, sabendo que ele estará em uma estante de biblioteca ou livraria para que alguma menina (ou menino) desavisada possa descobrir a poesia é algo que me deixa extremamente feliz. Ler esse livro escrito com a mesma força e revolta, com a mesma delicadeza e sentimento que me encantou lá no passado me faz pensar que a poesia é isso. É nunca abandonar a coragem de escrever e ler por si mesmo. De pensar as coisas que nos cercam diariamente tirando-as da sua total banalidade. É transformar a angústia, a reflexão, a perplexidade em pequenas pílulas de puro sentimento. É isso que a Iara faz: poesia.
A poesia é inútil. A gente pode tocar a vida sem ela. A poesia não tem nenhum valor prático sobre as coisas a fazer que temos que realizar todos os dias. E é por isso mesmo que a poesia é tão fundamental. Porque ela nos arranca da naturalidade das coisas e ela nos faz viver a vida real como arte. Nesse livro eu vejo claramente a Iara menina, a Iara mulher, a Iara mãe, a Iara artista, despregada da fatal realidade do mundo. Ela vai nos dando conta, poeticamente, de uma vida repleta de arte e poesia, ou de uma vida repleta de realidade, transformada em poesia.
Cada poema desse livro vai dando a pista de que a nossa vida pode sempre ser vista com os olhos da poesia. Não precisa ser a poesia ovacionada pela crítica literária ou de um poeta consagrado. A poesia mora aqui e ali, naquele jeito de olhar a vida que nos toca e que faz com que algo em nós se renove a cada frase. A poesia aqui nesse livro me faz lembrar da famosa frase do Nietzsche, de que “precisamos da arte para não morrer da verdade”. A arte poética mora na mente e no coração da autora deste livro. Ela, desde quando a conheci, foi tecendo esses poemas assim como foi tecendo sua vida, recheada da magia da poesia. Essa magia que transforma a nossa vida cotidiana e banal em algo que vale a pena ser vivido.
Essa magia que, nas palavras da poeta, vem para nos dizer que “chegou o tempo de criar andorinhas, chegou o tempo de converter estacas em canções, punhais em flores. Chegou a hora de trazer lépidas melodias e as bocas cantarem revolução”. Nesse e em outros versos aqui presentes é que podemos sentir que podemos viver sem a poesia, mas que só uma vida com poesia pode nos livrar de nossa sempre dura realidade.
DEPOIMENTOS SOBRE O LIVRO "Vespas na retina"
por: Luciele Mariel Franco
Me incumbo, humildemente, de um papel de grande honra e responsabilidade, ao propor redigir alguns parágrafos sobre “Vespas na Retina”, eis que, para mim, não é só um livro, entre os livros de poesias, nem só uma poeta, entre as poetas. “Vespas na Retina” foi a referência e essência de uma peça de teatro composta colaborativamente pela minha turma de teatro e dirigida pela própria poeta, mas também atriz, mãe, professora, filha, esposa, etc., Iara Ribeiro. Uma infinidade de substantivos em uma mulher de luta.
Já faz alguns aninhos que sigo como aluna de teatro da companhia fundada por Iara, a Cia Pedras, então já tinha tido oportunidades de me defrontar com sua poesia por vezes provocativa, por vezes sonhadora, mas sempre carregando um alfabeto de resistência. Porém, em 2017 ela nos entregou essa surpresa boa, um livro que reunia suas poesias da infância ao presente, carregando a essência de toda a carga humana que cotidianamente ela nos presenteia em seus projetos.
“Ave de Rapina”, nossa peça colaborativa, trouxe uma nova experiência pra mim de teatro e de poesia, em uma vivência imersiva em nosso cotidiano, inquietações, angústias e fantasias. No entanto, ela é apenas um fragmento da obra completa.
O livro é dividido em três partes, contendo poemas nas duas primeiras, “menina de algodão” e “a figura inexata da existência”, e ensaios na última, “ao complexo de negação no compasso da cabeça”.
A primeira parte, apesar de rememorar as inquietações da poeta em sua fase inicial de vida, me trouxe a presença nítida de minha professora em suas palavras, apresentando uma figura constante, muito embora multifacetada. Para quem convive com Iara Ribeiro, não passa despercebido em seu livro seu constante incômodo com os padrões, molduras e enquadramentos do mundo, seu posicionamento crítico, seus questionamentos provenientes de uma mente inquieta e sua escrita como resposta para desafogar a alma. Ao mesmo tempo, é possível encher nossos corações com toda a leveza de suas palavras doces e significados delicados, repletos de sonhos e fantasias, mas também de saudade.
Por sua vez, “a figura inexata da existência” apresenta um amadurecimento da escrita, reflexo do próprio amadurecimento da poeta, onde é possível encontrar as mesmas inquietações e ironias cotidianas, assim como a delicadeza indelével, porém mais aprofundadas, cruas ou sutis. Vê-se, ainda, o surgimento de novas temáticas, como a sensualidade, o desejo e a maternidade. Por fim, apresenta-se de forma clara a escrita enquanto forma de resistência.
Na terceira parte, os ensaios apresentam-se como o desenvolvimento de ideias singelas e pulsantes, fruto de questionamentos e requestionamentos de respostas prontas do cotidiano e da história. Trazem as percepções de quem vive como artista nesse mundo, de quem faz da arte sua profissão e sua arma. Carregando temas cotidianos, temas pessoais, temas do teatro, temas sociais, referências a outros autores. A descrição de uma cena teatral exibe o olhar dramatúrgico e poético de quem dedicou a vida ao teatro, demonstrando o porquê não poderia ser diferente: essa alma nasceu para a arte! Transcreve o que ao final já está claro: um livro feito por uma pessoa que encontrou na escrita a maneira de dizer o que sente.
Assim, finalizo este texto com a indicação para aqueles que, como eu, almejam seguir uma vida profissional na Academia: não deixem de ler o último ensaio, o “ensaio proibido”. Mas advirto: não pule textos! Já para aqueles que a docência não é atrativa, não deixem de ler “Vespas na Retina”.
Luciele Muriel Franco é formada em Direito na UEM, faz Pós Graduação, aluna da Cia Pedras e atriz nos Projetos "Ave de rapina" e "Avessos"
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O MINIATURIZAR POETICAMENTE O MUNDO
“Possuo melhor o mundo na medida em que eu seja hábil em miniaturizá-lo. Mas, fazendo isso, é preciso compreender que na miniatura os valores se condensam e se enriquecem”.
(BACHELARD, 1978, p.295)
Iniciar um texto para mim sempre é algo complicado. Fico pensando em vários possíveis inícios. Por vezes, escrevo várias e várias vezes o mesmo parágrafo. Este texto, em especial, me fez pensar e repensar no modo como começá-lo, e o que dizer do livro Vespas na retina, de Iara Ribeiro.
Antes de tecer algumas palavras sobre os poemas e ensaios deste trabalho literário, gostaria de falar que não sou um crítico literário, ou algo do gênero, mas alguém que aprecia as diversas manifestações artísticas, sejam elas expressas nas pincelas de uma tela, no movimento corporal ou nas palavras que conduzem nosso olhar a outros lugares, que nos seduzem por horas e horas.
Retorno à epígrafe de Bachelard, com a qual iniciei esta reflexão. Em um capítulo de Poética do espaço, o autor dedica-se em pensar sobre a miniatura no campo da literatura. Em tal capítulo, intitulado de “A miniatura”, Bachelard nos ensina que uma das virtudes do mínimo é ultrapassar a lógica entre o grande e o pequeno, para poder viver “o que há de grande no pequeno” (Bachelard, 1978, p. 295). Considero as afirmações de Bachelard sobre o miniaturizar o mundo; o ultrapassar essa lógica do grande e do pequeno, uma das formas possíveis, ou melhor, uma das metáforas mais belas de ler, degustar os poemas e ensaios de Vespas na retina.
As palavras poetizadas de Iara, nos levam a perceber, a se atentar aos detalhes mínimos que compõem o cotidiano, a vida, as relações que estabelecemos com a arte, com os papéis que assumimos e utilizamos diariamente, com as pessoas que convivemos. Suas reflexões nos conduzem a outros lugares, desvelando, por meio de palavras, sua maneira de ver o mundo, como também, nos faz um convite a mergulhar em nós mesmos, no imenso labirinto que constitui a temporalidade que denominamos “Eu”, em que nos achamos e perdemos, parafraseando um dos poemas do livro.
Pequenos detalhes, fatos que marcam, ou ainda na criticidade com que observa as questões contemporâneas, nos guiam de forma leve, porém reflexiva, por outra maneira da retina captar a luz, o poético, que se faz presente nos poemas, nos ensaios, como também, em sua atuação como atriz, diretora, professora...
Encerro minhas breves considerações, de um leitor que foi envolvido e se permitiu envolver na e pela maneira como Iara utiliza as palavras, para delas e com elas produzir arte, dizendo que o fiar dos pensamentos que juntos compõem este livro, ou, em outras palavras, o fio que conduz, amarra, costura...
Vespas na retina, insisto, é o atentar-se aos detalhes, o olhar mais lento, o perceber a poesia e o poético que está ao nosso redor, seja ele doce ou amargo, que console ou incomode. Por vezes, grande parte dos detalhes nos passa despercebidos, mas um olhar sensível como o de Iara foi e é capaz de captá-los e é isto que construiu e constrói a cada dia sua maneira particular de miniaturizar o mundo.
Bruno Pesch, primavera de 2017.
Bruno Arnold Pesch
Licenciado em Artes Visuais (2016) pela Universidade Estadual de Maringá. Mestrando em Letras, na área de concentração de Estudos Linguísticos; linha de pesquisa: Estudos do Texto e do Discurso (Análise de discurso) pela referida instituição.
Referência:
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. In: BACHELARD, Gaston. A filosofia do não; o novo espírito poético; a poética do espaço. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 181-349.
A começar pelo título, Vespas na retina já nos leva a imaginar uma atmosfera, no mínimo, intrigante. Vespas e retina: dois corpos belos, apreciados, romantizados, vívidos e alvo das artes. Porém, cabe aqui ressaltar que tudo isso quando analisados de forma isolada. Perceba a beleza das vespas e a apreciação da retina. Agora junte esses dois elementos e é possível sentir a agonia, o medo, a repugnância, a morte.
Para mim é disso que se trata Vespas na retina: A contradição, os extremos, a incompletude de existir e conviver com isso. Textos que dilatam nossos sentidos, que chegam a nosso paladar fazendo sentir gosto de água e sangue. Inquietam nosso olfato com cheiro de flores e fumaça. Convidam nosso corpo a sentir cafunés e agulhadas. Fazem nossa visão perceber a cor e o breu. Buscam nossos ouvidos pelo som do piano e tiroteio. Textos que falam sobre a simplicidade de ter família, que falam da complexidade de ser família. Textos sensíveis que falam de amor. Textos que perturbam nossa existência, que refutam nossa essência. Textos que chegam à poucos, mas que falam de muitos. Textos sobre a vida e a morte.
Giovani Giroto
Professor de Filosofia
Estudante de Teatro na Cia Pedras Teatro Circo
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